Sobre tantos Romeus e diversas Julietas _ CRÍTICA

O texto a seguir foi escrito em razão da apresentação do espetáculo "Romeu e Julieta" da Cia. Experimental de Teatro do CIAC, do Colégio CIAC Raymundo Andrade. A companhia, dirigida pelo ator Mário Ferreira, vem se consolidando em Cachoeiro de Itapemirim pelas pesquisas cênicas que desenvolve, diferenciando-se de demais grupos teatrais escolares, aspirando o profissionalismo em suas produções. O blog Cena Capixaba abre espaço para o diálogo e as descobertas capixabas. A crítica abaixo é do professor de literatura, Roberto Carlos.

Cia. Experimental de Teatro CIAC e o diretor Mário Ferreira.

Romeu e Julieta, de Willian Shakespeare, certamente um dos textos dramáticos mais encenados e adaptados, tanto para o teatro quanto para o cinema, recebeu uma nova roupagem: uma releitura sensível e metafórica das diversas vozes da contemporaneidade. Nela, dez Julietas e cinco Romeus entrelaçam-se, dão voz e sentido à história, e conduzem o público pelas tramas da tragédia inevitável.

A história se desenrola em um único cenário, pensado de forma simples e sutil, cuja intenção é destacar o drama do amor proibido e não a pompa de duas famílias luxuosas de Verona.  Nele, há levezas transparentes de cortinas que criam sombras e silhuetas, que também se abrem e revelam. Há lanternas espalhadas, e há focos de luz que intensificam a expressividade do rosto dos atores. Há luz e sombra, como se antecipasse a escuridão que cairá sobre todos ao final. E, há um piano: imponente, clássico. Rígido e suave, cujo som executado por uma atriz, contrasta com os passos dos atores em cena, ao pisar sobre um tapete de folhas secas. Eis o poético. Eis o dramático.

As Julietas e os Romeus, elegantes e bem caracterizados, revezam-se em seu drama do amor proibido. Em certos momentos, a fala de uma Julieta, repetida em coro pelas demais, dá-nos a sensação das insistências e teimosias da vida, típica, principalmente dos jovens atores e atrizes que estão no palco. Tem-se a sensação que o drama não é apenas do amor que não se pode viver, mas de todos os conflitos em que eles vivem na contemporaneidade. Os ecos insistentes são uma forma de reforço para o ato ou são avisos? Não se sabe.

O texto flui, a história se desenrola narrada pouco a pouco pela voz de cada um. Na sua emoção sabemos os fatos: a morte de Teobaldo, o exílio de Romeu, o plano para a união, os desencontros. E a tragédia que se anuncia, passa a ser tragédia coletiva. O ódio vai vencer o amor, como no texto original. E ficamos pensativos, mais uma vez, com esse drama tão clássico e tão cotidiano.
Essa releitura, com texto e direção de Mario Ferreira, montada pela A Cia Experimental de Teatro do Ciac, manteve a seriedade e a serenidade da tragédia e produziu, como deve ser o teatro, muitas reflexões. Mas, e principalmente, alimenta a essência humana da necessidade de se viver o presente, e deixar de lado os frascos e os punhais.

Ao sair do teatro, os versos ecoando na cabeça – “Não sei por que você se foi, quantas saudades eu senti!” – dá vontade de abraçar, de não deixar que a vida escoe pelos seus efêmeros, mas que seja perene, como o texto de Shakespeare.

Roberto Carlos Farias de Oliveira
Prof. de Língua Portuguesa, Literaturas e Arte
Aprendiz de ator

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