Qual o caminho para os atores de cinema no Espírito Santo?

Texto de Edson Ferreira - cineasta, roteirista e ator.
Contato: edson@filmesdailha.com

Tenho conversado com alguns colegas, cuja formação tem sido, tradicionalmente, voltada para o teatro. Basta uma análise mais apurada para verificar como o florescimento das companhias de teatro têm contrastado com a carência de mão de obra para o cinema. De um lado, os atores de teatro; de outro, os de cinema. Deveria ser assim? Não. Ator é ator, atriz é atriz.

Falta intercâmbio entre diretores de cinema e de teatro. Falta mais conhecimento das particularidades nas maneiras de atuar para teatro e para cinema/TV, embora a essência precise e deva ser mantida. De um lado, há reclames de que os filmes são feitos (quase) sempre com as mesmas caras e de que não há testes de elenco. "Quando dei por mim, o filme já tinha sido rodado e nem fiquei sabendo", é um argumento já bem conhecido. Mas isso não é exclusivo do cinema, pois o teatro também está consolidado por nichos, o que, não raro, têm sido mais seletivos do que o cinema, de certa forma: não existem "companhias de cinema". O sujeito faz um filme, recebe seu cachê (ou não recebe, mas isso é outro problema), e tchau. Já as companhias de teatro são criadas e se perpetuam por anos, sem que haja testes para isso. Do mesmo modo, diz-se: "quando dei por mim, a companhia já existia e nem pude tentar entrar".

Porém, há um fato inegável e preocupante: se a formação para atores de teatro existe há décadas no estado - bem ou mal feita - o mesmo não se pode dizer da formação para o cinema. Um panorama mais abrangente dos workshops que têm sido oferecidos são, em sua maioria esmagadora, voltados para as múltiplas possibilidades que o teatro pode oferecer. Há quem diga que formação para cinema se resuma a saber de que lado se deve virar a cabeça na hora de beijar diante da câmera. Não. Há um mundo muito mais rico a se explorar, a se descobrir. Há uma infinidade de leituras que se podem fazer diante de um papel em um filme, novela ou seriado que estão muito além de fazer um "intensivo" e sair com um "videobook" debaixo do braço (estou falando daqueles DVDs em que o ator manda um texto de 2 minutos sem pé nem cabeça e não interage com absolutamente ninguém. E pior: ele realmente acha que o diretor de Malhação vai assistir e o escolher).
Estamos diante de uma necessidade de expansão de conteúdos para TV, por conta da Lei 12.485 (se você não sabe do que se trata, meu caro ator, procure saber, pois ela tem tudo a ver com seu ofício). E essa demanda já está trazendo um necessidade de profissionais competentes. E se você acha que isso é coisa só de Rio ou São Paulo, engana-se redondamente. Digo isso não apenas para atores e atrizes, mas para cursos regulares, cursos livres, escolas de formação, companhias e etc.


Bastidores do filme "Entreturnos" de Edson Ferreira. Na foto, o diretor com os atores Lorena Lima e Milhem Cortaz

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