Sobre atores e "não-atores"
texto de Edson Ferreira – Cineasta, Roteirista e Ator
edson@filmesdailha.com
Respeito os amigos diretores que optam por trabalhar com elenco formado por "não-atores", quase que como uma regra, mas penso diferente. Deixei o termo entre aspas porque ele me soa estranho: ninguém vai convidar um "não-diretor de fotografia" para fotografar seu filme; ou um "não-produtor" para produzi-lo. Imaginem um "não-diretor de arte" no set? Queremos profissionais, e experientes.
Da mesma forma, o campo da atuação precisa de atores de verdade. Como “profissional” não quero dizer, necessariamente, com diploma de curso superior (embora o canudo seja ótimo e incentivado a se obter); chamo de profissional aquele que sabe o que está fazendo, que está devidamente capacitado, que estuda, que se recicla, que adquire experiência em cursos, wokshops, filmes e peças de teatro; que sai da zona de conforto, que mergulha, que se entrega, se dedica. É assim que se forja uma carreira.
Tenho o costume de olhar para alguém e dizer: “você já pensou em ser ator (ou atriz)?” Isso não significa “vai lá e faz”, sem estudo, preparação e dedicação. Indagar uma pessoa para a possibilidade dela atuar significa enxergar nela um potencial que, talvez, ela ainda não tenha se despertado. Essa é minha tarefa, como diretor (e também ator). É o mesmo que olhar para um moleque na pelada de rua e ver nele um futuro como jogador, desde que haja disposição para crescer e melhorar a cada dia. O mesmo vale para qualquer profissão. Ainda paira um estigma do “talento” como o santo graal dos artistas. Não. Talento sim, acompanhado de um zilhão de outras competências.
Há exceções. O exemplo mais emblemático e bem-sucedido aqui no Brasil parece ser Cidade de Deus. Mas, só parece, pois mesmo Cidade de Deus precisou de uma batalha grandiosa para dar a cada um daqueles garotos o que era necessário, e isso não levou uma ou duas semaninhas, mas meses, e cuja tarefa precisou de profissionais (olha eles aí de novo), como Guti Fraga e Fátima Toledo. E aí o sujeito precisa ser rasgado, virado do avesso, morrer para muitas coisas em si para que seu personagem nasça. E para isso, meus caros, não adianta rosto bonito, corpo esguio e voz colocada.
Atuação sem profissionalismo não é atuação; sem transformação interna não é atuação; é maquiagem.
edson@filmesdailha.com
Cena do filme "Cidade de Deus" (2002), de Fernando Meirelles.
Respeito os amigos diretores que optam por trabalhar com elenco formado por "não-atores", quase que como uma regra, mas penso diferente. Deixei o termo entre aspas porque ele me soa estranho: ninguém vai convidar um "não-diretor de fotografia" para fotografar seu filme; ou um "não-produtor" para produzi-lo. Imaginem um "não-diretor de arte" no set? Queremos profissionais, e experientes.
Da mesma forma, o campo da atuação precisa de atores de verdade. Como “profissional” não quero dizer, necessariamente, com diploma de curso superior (embora o canudo seja ótimo e incentivado a se obter); chamo de profissional aquele que sabe o que está fazendo, que está devidamente capacitado, que estuda, que se recicla, que adquire experiência em cursos, wokshops, filmes e peças de teatro; que sai da zona de conforto, que mergulha, que se entrega, se dedica. É assim que se forja uma carreira.
Tenho o costume de olhar para alguém e dizer: “você já pensou em ser ator (ou atriz)?” Isso não significa “vai lá e faz”, sem estudo, preparação e dedicação. Indagar uma pessoa para a possibilidade dela atuar significa enxergar nela um potencial que, talvez, ela ainda não tenha se despertado. Essa é minha tarefa, como diretor (e também ator). É o mesmo que olhar para um moleque na pelada de rua e ver nele um futuro como jogador, desde que haja disposição para crescer e melhorar a cada dia. O mesmo vale para qualquer profissão. Ainda paira um estigma do “talento” como o santo graal dos artistas. Não. Talento sim, acompanhado de um zilhão de outras competências.
Há exceções. O exemplo mais emblemático e bem-sucedido aqui no Brasil parece ser Cidade de Deus. Mas, só parece, pois mesmo Cidade de Deus precisou de uma batalha grandiosa para dar a cada um daqueles garotos o que era necessário, e isso não levou uma ou duas semaninhas, mas meses, e cuja tarefa precisou de profissionais (olha eles aí de novo), como Guti Fraga e Fátima Toledo. E aí o sujeito precisa ser rasgado, virado do avesso, morrer para muitas coisas em si para que seu personagem nasça. E para isso, meus caros, não adianta rosto bonito, corpo esguio e voz colocada.
Atuação sem profissionalismo não é atuação; sem transformação interna não é atuação; é maquiagem.
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